quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Breve Histórico da Música Jamaicana



Breve Histórico da Música Jamaicana
Bergson Henrique e Raphael Cruz

A história musical jamaicana se baseia em ritmos populares como o Mento, que é um dos ritmos genuinamente jamaicanos, juntamente com outros ritmos caribenhos como o Calypso (de Trinidad) que vinham de outras ilhas que formam as Antilhas.

Nos anos 1950 a Jamaica estava se habituando a escutar o que vinha das estações de rádio americanas, desenvolvendo um gosto pelo Rhythm and Blues, o Jazz e demais variações da música popular norte-americana. Essa entrada de música americana era difundida também através dos Sound Systems que se originaram nos guetos de Kingston (capital jamaicana) e que consistiam de equipamentos de som à céu aberto onde eram reproduzidos os discos selecionados pelos dj's. Dois desses dj's e que posteriormente viriam a marcar profundamente a música jamaicana foram os produtores Coxsone Dodd (dono da mundialmente conhecida gravadora jamaicana Studio One) e Duke Reid (proprietário da Tresure Isle). Os sound systems tiveram um importante papel na formação da música moderna jamaicana pois impulsionaram o nascimento do Ska, do Rocksteady, do Reggae e do Dub.

No perímetro urbano da Jamaica, a novidade dos sound systems não agradou muito a classe média, que ainda preferia escutar o Jazz e o Rhythm and Blues americano, mais pelo status do que realmente pela musicalidade.

É desse ambiente cultural que surge o Ska, da mistura de ritmos locais (Mento), afro-caribenhos (Calypso) e norte-americanos (Jazz e Rhythm and Blues), sendo considerado o primeiro grande desenvolvimento da moderna música popular jamaicana, de onde dali a alguns anos iria brotar o Rocksteady e mais tarde o Reggae.

O Ska se caracteriza por ser um ritmo fortemente acentuado nos contratempos, nos 2o e 4o tempos do compasso, onde piano e guitarra acentuam os contratempos, enfatizados pelos metais, quando esses não estavam solando.
Com o seu desenvolvimento foram surgindo grandes solistas, principalmente dos metais, já que esses eram os instrumentos que mais se destacavam no todo da música, com solos que cada vez se aperfeiçoavam mais.
Parte da população jamaicana estava satisfeita e orgulhosa da nova música que estava sendo feita, outra parte achava o Ska um ritmo básico, com letras infantis, rimas simples e batida constante e de certa forma "dura".

Já no tocante ao contexto social da época ele era marcado por uma Jamaica conturbada, prestes a conseguir a independência nacional (6 de Agosto de 1962) perante a Inglaterra. O clima estava conturbado e muitos problemas sociais ocorriam. Muitos temas de Ska abordavam esses problemas, como Simmer Down dos Wailers, de 1964, que relatava os dias difíceis que estavam sendo vividos. A delinqüência juvenil também era crescente, da qual surgiu um grupo de jovens que eram considerados pequenos marginais, os rude boys, jovens negros e pobres dos guetos de Kingston que não tiveram oportunidade de viver no clima de euforia da independência, muitos tinham vindo do interior tentar a vida na cidade grande, mas só encontraram mais miséria ou o mundo do crime como alternativa. Assaltar turistas e comércios e fumar cannabis no monte Zion eram algumas de suas atividades quando não estavam esperando o próximo baile. Suas roupas eram baseadas nos personagens de filmes gangsteres americanos dos anos 30 e a maneira de dançar Ska chamava atenção, tanto pelas roupas quanto pela maneira imponente de dançar.

Posteriormente com a imigração para a Inglaterra, especificamente Londres, desses jovens e o contato com jovens brancos e pobres provenientes da classe operária nos bailes de música negra, fez nascer a figura do skinhead, que reúne elementos culturais tanto dos rude boys jamaicanos quanto dos mods ingleses.

Diz a lenda que foi atendendo a pedidos do público que o Ska foi um pouco desacelerado para que fosse possível encaixar uma letra de música, já que nele eram os metais quem preenchiam os compassos musicais. Outra versão conta que os instrumentistas dos metais estavam insatisfeitos com a pequena remuneração que recebiam e acabaram ficando para segundo plano, dando mais destaque ao vocal e aos outros instrumentos, como o baixo que criava novas linhas de riddins e a guitarra.

É nessa desaceleração do Ska que temos as origens do Rocksteady. Ele predominou nas paradas jamaicanas entre o Ska e o surgimento do Reggae, mais precisamente entre os anos de 66 e 68. É visto como uma fase de transição entre os dois ritmos. Não é tão rápido quanto o Ska e nem tão lento quanto o Reggae. Sua principal característica foi desviar mais a atenção para o vocal, com o surgimento de duos e trios vocais. Suas letras geralmente falam do cotidiano, prevalecendo às temáticas amorosas, com melodias bem definidas e harmonizadas.

Bob Marley chegou a gravar alguns temas de Rocksteady quando voltou dos EUA em 1966.

Como para se fazer Rocksteady não se necessitava de tantos instrumentistas quanto para se fazer um Ska, a produção musical jamaicana sofreu um intenso impulso, que fez a ilha fervilhar de novos talentos como Melodians, Heptones e Paragons. Por ter sua estrutura mais a ver com o Reggae do que com o próprio Ska, o Rocksteady tem sua história um pouco deixada de lado, ficando para o Reggae o maior reconhecimento pelo grande público e fama da música jamaicana.


Raphael Cruz (f.raphael.c@gmail.com)
Bergson Henrique (
magao_sppud@hotmail.com)
Fonte: zine Rude, Uma Menssagem Para Ti, Fortaleza, Ceará, 2008.

Nenhum comentário: